segunda-feira, 17 de julho de 2017

Tempos difíceis


A questão é que o que predomina o debate político é o ódio e o ressentimento. As redes sociais foram responsáveis pela disseminação de muitas ofensas pessoais de baixíssimo nível, compartilhadas e multiplicadas impunemente inclusive por pessoas educadas de bom discernimento que não o fariam no meio real (além dos bots). Isso vale para os dois lados. O ódio e o ressentimento não permitem nem ver nem ouvir o outro e qualquer conversa se torna estéril. Fica valendo o pensamento binário, a disjunção exclusiva. É preciso furar a bolha que nos separa.

Há um agravante neste cenário que é a atuação do judiciário, que passou usar diferentes pesos e medidas para validar um dos lados. Difícil explicar pra quem é de fora porque tantos ainda estão continuam exercendo seus mandatos. Vejo com muita tristeza o país retomando feições de um estado de exceção que a minha geração tanto combateu. Vejo o recrudescimento da violência policial atirando contra a população vulnerável com certeza da impunidade (caso recente do assassinato de um morador de rua), manifestações políticas e movimentos sociais criminalizados, restrição à liberdade de expressão (vide monica, azenha, chico), etc. Vejo tempos bem difíceis.
Mas o tempo de lamentar já passou. Acho que precisamos encontrar uma saída. Precisamos construir uma nova narrativa que possa retomar o diálogo interrompido pelo ódio, uma narrativa que não seja nem de esquerda nem de mercado. Seria, ao mesmo tempo, uma narrativa de resistência e de busca. Resistência ao atual estado de coisas tais como consumismo desenfreado, desrespeito à natureza, culto às celebridades e modismos instantâneos e não aceitar discursos rasos e preconceituosos. Uma narrativa também de busca de formas de convivência harmoniosa com a natureza e com o outro, do melhor espaço público, incentivar a participação cidadã contra a preguiça, etc.

Talvez precisemos voltar a pensar a política a partir do microcosmo que nos rodeia para encontrar o mundo que queremos viver. É a política dos cidadãos cuidando da polis. As pessoas reclamam dos políticos, mas delegaram a eles (por preguiça, não?) a função de cuidar da polis. Acho que precisamos voltar a pensar a política como os gregos lá atrás (mas claro, com a cidadania estendida a todos ).

Nenhum comentário: