quinta-feira, 20 de julho de 2017

Vamos continuar insistindo por um mundo melhor ...

Publico aqui conversa com uma amiga que vive há um 30 anos fora do Brasil. Difícil entender o que se passa aqui; afinal foi para colocar esse governo que aí está que os brasileiros bateram panela e vestiram verde amarelo?...parece que sim... Minha resposta:"Querida amiga, não é só Brasil, acho que o mundo que está doente. Veja a Europa : retorno da extrema direita, terrorismo, refugiados, etc. A diferença é que no Brasil a me... fica mais exposta, então fe... mais.Alguém disse que a melhor invenção do séc XX teria sido os direitos humanos. Acreditei que tais direitos eram conquistas irreversíveis do ciclo civilizatório da humanidade como a eletricidade, a penicilina, os computadores ... mas começo a ter minhas dúvidas. Acho que vivemos um momento de inflexão, ou de decadência de uma era. Seria o esgotamento de um sistema de acumulação e exploração de capital onde poucas famílias e grupos controlam Estados e economias nacionais? No atual estágio de desenvolvimento tecnológico porque continuamos a destruir a natureza? O Rio Doce continua morta e daí? Porque produzimos tanto lixo enquanto tem crianças que ainda morrem de fome? Tem conta errada nessa equação. Programas e noticiários de TV me deixavam bastante pessimista quanto ao grau evolutivo da humanidade. Mas ao sair para ver o que as pessoas andam fazendo fora da TV encontrei muita coisa interessante. Perto da minha casa tem uma horta comunitária. Lá conheci um moço que ensina a criar abelhas polinizadoras sem ferrão, um biólogo "caçador de fungos do bem", um paisagista que planta "Mata Atlântica de bolso", etc. Participo de um grupo que prepara pizzas para instituições que cuidam de crianças ou idosos. Chegamos a produzir mais de 700 pizzas num único dia. Tem um grupo que oferece banho e tosa para os peludos de moradores de rua. Tem coletivos como "cidade lúdica", "cidade a pé" com ativistas que querem construir uma cidade mais humana e inclusiva, etc. Quer dizer, tem muita gente boa gastando seu tempo livre para transformar a sua comunidade num lugar melhor para se viver. É gente que tem algo para DAR, ao invés de só sugar, cobrar ou reclamar. É quando acho que precisamos continuar. Dias desses li numa dessas mensagens de redes sociais : "Cansou de lutar? Então pare e descanse. Depois prossiga". Tem outra, não me digitalizei e não vejo mais TV. Descobri que ela não me faz falta.". Quanto à situação politica no Brasil, fica para uma outra conversa.

segunda-feira, 17 de julho de 2017

Tempos difíceis


A questão é que o que predomina o debate político é o ódio e o ressentimento. As redes sociais foram responsáveis pela disseminação de muitas ofensas pessoais de baixíssimo nível, compartilhadas e multiplicadas impunemente inclusive por pessoas educadas de bom discernimento que não o fariam no meio real (além dos bots). Isso vale para os dois lados. O ódio e o ressentimento não permitem nem ver nem ouvir o outro e qualquer conversa se torna estéril. Fica valendo o pensamento binário, a disjunção exclusiva. É preciso furar a bolha que nos separa.

Há um agravante neste cenário que é a atuação do judiciário, que passou usar diferentes pesos e medidas para validar um dos lados. Difícil explicar pra quem é de fora porque tantos ainda estão continuam exercendo seus mandatos. Vejo com muita tristeza o país retomando feições de um estado de exceção que a minha geração tanto combateu. Vejo o recrudescimento da violência policial atirando contra a população vulnerável com certeza da impunidade (caso recente do assassinato de um morador de rua), manifestações políticas e movimentos sociais criminalizados, restrição à liberdade de expressão (vide monica, azenha, chico), etc. Vejo tempos bem difíceis.
Mas o tempo de lamentar já passou. Acho que precisamos encontrar uma saída. Precisamos construir uma nova narrativa que possa retomar o diálogo interrompido pelo ódio, uma narrativa que não seja nem de esquerda nem de mercado. Seria, ao mesmo tempo, uma narrativa de resistência e de busca. Resistência ao atual estado de coisas tais como consumismo desenfreado, desrespeito à natureza, culto às celebridades e modismos instantâneos e não aceitar discursos rasos e preconceituosos. Uma narrativa também de busca de formas de convivência harmoniosa com a natureza e com o outro, do melhor espaço público, incentivar a participação cidadã contra a preguiça, etc.

Talvez precisemos voltar a pensar a política a partir do microcosmo que nos rodeia para encontrar o mundo que queremos viver. É a política dos cidadãos cuidando da polis. As pessoas reclamam dos políticos, mas delegaram a eles (por preguiça, não?) a função de cuidar da polis. Acho que precisamos voltar a pensar a política como os gregos lá atrás (mas claro, com a cidadania estendida a todos ).