sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

"Nóias" e nós


Aconteceu de novo ontem. A polícia dá uma blitz na Cracolândia mas não tem o que fazer com os "nóias", então manda-os para a Prefeitura que joga de novo para as ruas. Assim são tratados os dependentes químicos nesta cidade.
Em janeiro de 2009 o governo do Estado inaugurou uma clínica para jovens dependentes, tudo muito lindo e completo. Número de vagas: 30 leitos e 120 atendimentos por ano para garotos entre 14 e 18 anos. Isso e nada é a mesma coisa (quem serão os abençoados que conseguirão vaga?) .
As entidades que prestam assistência aos moradores de rua podem fazer muito pouco na questão da dependência química. Poder de polícia para combater o tráfico de drogas pertence ao Estado; e o tratamento de um dependente necessita de cuidados médicos que ultrapassam a capacidade e a competência destas entidades.
Muitas vezes conseguimos convencer um dependente químico a retomar sua vida e largar o vício mas não conseguimos vagas gratuitas em instituições de desintoxicação. O tratamento ambulatorial nos Postos de Saúde é limitado e inadequado para uma uma pessoa que vive nas ruas em grau avançado de dependência.
A sociedade precisa entender que não basta alguém "querer" se livrar de uma droga como o craque, requer um tratamento especializado e prolongado.
Se nos incomoda ver "nóias" perambulando pelas esquinas da nossa cidade, é preciso enfrentar o problema abertamente. Se continuarmos a ignorá-los, em pouco tempo serão tantos que não dará mais para escondê-los "debaixo do tapete". A solução deste problema vai custar caro, levará muito tempo e terá que envolver muita gente. É preciso pensar mais seriamente nisso, e logo ....
PS: veja como uma mãe luta para livrar seu filho do craque: http://g1.globo.com/bomdiabrasil/0,,MUL1532739-16020,00-MAE+ACORRENTA+FILHO+PARA+LIVRALO+DO+CRACK.html
Leia:
http://noticias.uol.com.br/cotidiano/2010/02/25/operacao-policial-na-cracolandia-termina-com-fuga-em-massa-dos-viciados.jhtm : Operação policial na cracolândia termina com "fuga" em massa dos detidos - por Arthur Guimarães - Do UOL Notícias

domingo, 21 de fevereiro de 2010

Dra. Zilda Arns

(25/ago/1938 - 12/jan/2010)
Antes de retomar os posts neste blog eu não poderia deixar de prestar a minha homenagem à Dra. Zilda Arns. Médica pediatra e sanitarista, fundou a Pastoral da Criança em 1983. Ensinou às mães noções básicas de higiene, a importância do exame pré-natal, e com soluções muito simples e baratas como o soro caseiro (água, sal e açúcar) e a multimistura (feito de farelos de alimentos da região) combateu a desnutrição e alcançou índices impressionantes na redução da mortalidade infantil no Brasil. Inspirada no evangelho da multiplicação dos pães, Dra. Zilda buscou a multiplicação do conhecimento através do trabalho voluntário e na formação de agentes de saúde em cada canto deste país onde exista uma criança carente.
Num momento em que se questiona o elevado custo da burocracia das ONGs, Dra Zilda provou que pode-se fazer muito com muito pouco; basta um pouco de generosidade, uma dose de conhecimento técnico e uma grande vontade de construir um mundo melhor. Foi para mim a grande fonte inspiradora para iniciar um trabalho social ao demonstrar que não é preciso grandes verbas nem grandes estruturas para fazer algo significativo e útil para a sociedade (mas é preciso começar).
Outro motivo que me fez dedicar este espaço a Dra. Zilda foi constatar que muita gente, principalmente os mais jovens não conheciam o conteúdo e a importância de seu trabalho na construção deste país. Numa era de celebridades instantâneas, é triste saber que não fosse a tragédia de Haiti muita gente continuaria sem conhecer essa grande brasileira chamada Zilda Arns.